domingo, 7 de dezembro de 2014

Relato de Parto

Talvez uma das coisas que mais me assustava na idéia de ter um filho era que ele precisaria sair da barriga, de um jeito ou de outro. Não gosto de cirurgias e tinha medo do parto normal. Mas isso não iria me impedir de viver o sonho da maternidade. E assim, quando fiquei grávida, comecei a ponderar minha escolha de como trazer minha filha Malu ao mundo. 

Tive a sorte de ter tido amigas que me contaram experiências maravilhosas do parto natural humanizado. Infelizmente, também ouvi relatos que me amedrontavam. A gente escuta de tudo quanto é tipo de opinião mesmo, e não é nada fácil ponderar. Mas quando me vi com um ser em formação na minha barriga, sob a minha responsabilidade, procurei escolher a forma de nascer que fosse mais respeitosa e suave, pensando em primeiro lugar na Malu. Em meu coração eu sabia que a escolha mais sensata seria um parto natural, apesar do medo.

E assim fui me cercando de informações que me fizessem sentir segurança na minha escolha. Passei a dar menos ouvidos às historias ruins, pensando que o risco sempre existiria, ele faz parte da vida. Procurei profissionais que me fizessem ter certeza que eu estaria bem monitorada e assistida.

Nesse caminho, encontrei a Dra. Rita de Cássia, Obstetra da Maternidade Brasília, uma profissional humana, carinhosa, segura e extremamente competente. Já de cara, tive afinidade e confiança. E a sua calma me fez acreditar que essa seria a profissional ideal pra me acompanhar na gestação. Além disso, procurei praticar yoga para gestantes e conheci a Carmen Palet, professora de yoga e doula, que foi outro presente. A Carmen havia sido doula de outras amigas, é muito experiente, e também muito calma e carinhosa. Estava escolhida a minha equipe.

A partir daí, procurei não criar muitas expectativas, pensava que teria o parto possível, a depender das condições que se apresentassem. Usaria a sala de parto humanizado, se houvesse vaga, o parto seria natural se as condições fossem propícias para isso.

Mas alguns monstros me assombravam. A idéia de esperar mais de 40 semanas de gestação era uma delas. Me lembro quando abordei esse assunto com a Dra Rita e ela calmamente ponderou: "não se aflija por isso, porque você pode nem  chegar às 40 semanas". E assim segui tentando não sofrer por antecipação.

Minha gestação foi tranqüila, sem nenhum problema, Malu estava cefálica, tudo indicava boas condições para o parto normal. No fundo, eu acreditava que com 38, no máximo 39 semanas, a Malu viria. Sai de licença do trabalho às 38 semanas. Deixei tudo pronto, ansiosa que sou. Passei a cuidar de pequenas coisas da casa para a chegada da Malu, procurei descansar, fui ao cinema, encontrei amigas, caminhei, fui à terapia, fiz yoga no sol, acupuntura, massagem, fui pra piscina. Preparei meu corpo e meu emocional. Chegamos à 39 semanas e nenhum sinal de Malu.

A ansiedade começou a dar as caras. Tive receio de passar das 40 semanas, voltei ao assunto e decidimos, com a médica e o marido, que esperaríamos até 41, monitorando de 2 em 2 dias. Com 41 semanas, eu tentaria indução com ocitocina sintética.

Com 39 semanas e 5 dias, fui ao shopping e perdi o tampão. Fiquei eufórica, liguei pro meu marido (nossa hora estava se aproximando). Me lembrei da sensação de primeiro dia de aula na infância. Era parecida a emoção. Não tive medo. Mas a Dra Rita me alertou: fique atenta, mas saiba que o TP ainda pode demorar até 10 dias pra começar depois de perder o tampão. (E mais uma vez acreditei que esse não seria o meu caso).

Passaram dias e nada de trabalho de parto. Ainda bem que eu tinha decidido só contar pro marido da perda do tampão. Assim, a ansiedade seria só a nossa. Por enquanto. Acontece que completar 40 semanas e não entrar em trabalho de parto tem uma primeira consequência: você passa a receber ligações de toda a família, mensagens de todos os amigos, preocupados: "cadê a Malu?", "você não está esperando demais,", "não passou muito do tempo?", etc.

Abro aqui um parênteses pra admitir que não imaginei que eu conseguiria manter a calma e administrar essa ansiedade, mas a cada monitoramento com a Dra Rita eu ganhava mais confiança de que estava tudo bem e valeria a pena esperar o tempo da minha filha.

Perdi mais tampão outras 3 vezes (ele veio à prestação). Com 40 semanas e 4 dias, meu colo ja estava 90% apagado, a Malu ja estava baixa e a Dra Rita descolou um pouquinho a membrana entre o útero e a placenta, pra estimular o trabalho de parto. Conheci outras 3 pessoas que fizeram isso e horas depois ja estavam em TP. Comigo, mais uma vez, foi diferente. Não senti contrações, nem cólicas.

40 semanas e 5 dias, às 17h, muitos exercícios na bola, caminhadas, chá de canela - enfim começaram as contrações. De 10 em 10 minutos. Que alegria! 5 em 5 minutos (nossa, vai ser rápido!) - chama a Carmen, Malu ta chegando!

A cada contração, a massagem aliviava a dor e sentia que a hora estava chegando. Às 4h da manha fomos pra maternidade. E mais uma surpresa: apenas 2 cm de dilatação. Melhor voltar pra casa, tentar descansar, o TP ainda estava em fase latente. Liberamos a Carmen, mas não consegui descansar, pois as contrações continuavam de 7 em 7, de 6 em 6, as vezes de 9 em 9 minutos. Ficar deitada doía mais. O melhor era caminhar. Assim me mantive até o dia seguinte. Teria nova avaliação com a Dra Rita às 15h.

40 semanas e 6 dias, às 15h - evoluímos para 5cm de dilatação, vamos internar. Malu não quis mesmo que induzíssemos o parto, mas esperou até quando pôde no quentinho do útero. Internamos às 16h30. Não avisamos ninguém (e como foi difícil driblar minha família), porque poderia demorar e não queríamos gerar ansiedade.

As contrações passaram a ser mais frequentes e doloridas. Quando estavam de 3 em 3 minutos, fizemos mais um toque, ainda 6cm de dilatação. Descemos para a sala humanizada. 23h - a dilatação não estava evoluindo, apesar das contrações de minuto em minuto. Dra Rita me explicou que seria administrado plasil pra relaxar o colo do útero e estouraríamos a minha bolsa, pra que a dilatação evoluísse. Assim fizemos. Partimos para os exercícios de Side lying a cada contração para ajudar a Malu a girar. A dilatação progrediu.

A partir dai perdi um pouco a noção de tempo. Me entreguei completamente. Tive vontade de fazer força, começou o expulsivo. Fui para cadeira de cócoras e canalizei toda minha energia na força que fazia a cada contração. Pedi a Nossa Senhora que estivesse ali, tive meu marido fazendo força junto comigo, tive uma equipe maravilhosa que me incentivou e encorajou o tempo inteiro. Me senti forte, poderosa, me senti capaz. Acreditei. E ao som de músicas especiais pra nós como "anunciação", "brand new start" e "ultimo romance" nasceu Malu, às2h32, linda, saudável, calminha.

Veio para os meus braços e ali ficou até que eu autorizasse que a levassem para os procedimentos da pediatria. Meu marido cortou o cordão depois de um tempo. Estávamos em estado de graça. Conseguimos! Driblamos nossa ansiedade, soubemos esperar o tempo de nossa filha. Passamos juntos por 33h de trabalho de parto. Nasceram um pai e uma mãe, fortes, apaixonados, capazes de qualquer coisa por amor a nossa pequena.


Agradecemos imensamente a todos que apoiaram nossa escolha, que nos ajudaram a acreditar, à equipe maravilhosa que cuidou de nós com a dedicação e entrega que só tem quem ama muito o que faz. E agradeço, em especial, ao Ivan, meu companheiro, que esteve o tempo inteiro ao meu lado, dividindo tudo. Que acreditou e confiou em mim, e que não me deixou desmotivar em nenhum momento. Parimos juntos. 

5 comentários:

  1. Emocionante o texto, beta! Sua alegria está transbordando em mim! :*
    Luka

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  2. Lindo relato Roberta, parabéns pela força e pelo respeito ao tempo de sua filhinha vir ao mundo, que sejam muito felizes !!!

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  3. Poxa, me emocionei. Lindo seu relato de parto!!!
    Felicidades para vocês.
    Ass.: ex noiva tatah e daqui um tempo gestante tatah se Deus quiser rs...

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  4. Vc me inspirou,amiga... vc me mostrou os primeiro seus caminhos e me fez ver que eu poderia me empoderar... Faltam poucos dias pra chegada da Pietra e eu sou muito grata pelo seu apoio e amizade! Te amo!! Gabi

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  5. DOutora Rita é plantonista na Maternidade??

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