domingo, 1 de abril de 2012

A ideia de um filho


Estamos casados há um ano e sete meses e, sem dúvida nenhuma, quando o assunto é nós dois, a pergunta que mais ouvimos é "E aí, quando vem o bebê?".

Socialmente, em nossa cultura, o que se espera de um novo casal é isso mesmo, o primeiro filho logo após o casamento, depois mais um, e mais um quem sabe... Talvez para muitos, essa é a razão de existir a união entre duas pessoas. E esse é o meu primeiro ponto de discordância.

Acredito que o sentido da união entre duas pessoas é  crescer junto a quem se ama e admira. É aprender a arte da vida compartilhada, com seus prós e contras e assim ser uma pessoa melhor a cada dia. Acho que um casal pode ser muito feliz sem querer filhos, assim como acredito que um casal sem filhos é sim, e por quê não, uma família.

Eu, particularmente, tenho comigo desde pequena o sonho de ser mãe. Meu marido também sonha em ser pai, e, por isso, temos grandes expectativas e, consequentemente, alguns medos. Para nós, o planejamento de um filho inclui amadurecimento pessoal e crescimento como um casal.

Sei que não existe perfeição, mas a busca pelo aperfeiçoamento é importante quando se pensa em ser pai ou mãe. Colocar um filho no mundo para trazer um sentido para vida está errado, é cruel gerar um ser e imputar a ele tamanha responsabilidade. Escolher ter filhos para que eles nos ensinem a crescer e alegre nossas vidas também é um tanto egoísta. É preciso primeiro estar inteiro para amar um filho e ensiná-lo a ser inteiro na vida.

Outra coisa que considero importante trazer pra reflexão: não acredite em quem diz que é a mulher que decide um filho sozinha! Não pode ser assim, casamento é parceria e se você espera um pai presente, que viva com você esse sonho, espere o momento dele também. Para a mulher, isso é sim um exercício de controle da ansiedade, mas também é aprender a respeitar o outro.

Filho não salva casamento, não traz a pessoa amada de volta em dez dias, não cura depressão, e pode, ao contrário, trazer ainda mais desarmonia, só que envolvendo um pequeno ser, que poderia ser poupado. Também não acredito nessa que quando o filho vem, Deus ajuda a resolver qualquer dificuldade financeira. É ilusão demais achar que um bebê tem poderes assim tão mágicos.

Portanto, trago hoje como reflexão, um texto de Monica Montone, que inspirou esse post, e que achei muito interessante. Não quero desencorajar ninguém, pelo contrário, minha intenção é encorajar homens e mulheres a procurarem ser melhores, se cuidarem bastante, aprenderem a amar a si e ao outro, antes de assumir uma missão dessas, tão linda e tão desafiadora.

"Filho é para quem pode!

Eu, não posso! Apesar de ser biologicamente saudável.

Não posso porque desconheço o poço sem fundo das minhas vontades, porque às vezes sou meio dona da verdade e porque não acredito que um filho há de me resgatar daquilo que não entendo ou aceito em mim.

Acredito que a convivência é um exercício que nos eleva e nos torna melhores, mas, esperar que um filho reflita a imagem que sonhamos ter é no mínimo crueldade.

Não há garantias de amor eterno e o olhar de um filho não é um vestido de seda azul ou um terno com corte ideal. Gerar um fruto com o único intuito de ser perfumada por ele no futuro é praticamente assinar uma sentença de sal.

Filhos não são pílulas contra a monotonia, pílulas da salvação de uma vida vazia e sem sentido, pílula “trago seu marido de volta em 9 meses”.

Penso que antes de cogitar a hipótese de engravidar, toda mulher deveria se perguntar: eu sou capaz de aceitar que apesar de dar a luz a um ser ele não será um pedaço de mim e portanto não deverá ser igual a mim? Eu sou capaz de me fazer feliz sem que alguém esteja ao meu lado? Eu sou capaz de abrir mão de determinadas coisas em minha vida sem depois cobrar? Eu sou capaz de dizer “não”? Eu quero, mesmo, ter um filho, ou simplesmente aprendi que é para isso que nascemos: para constituir uma família?

Muitas das pessoas que conheço estão neurotizadas por conta de suas relações com as mães. Em geral, são mães carentes que exigem afeto e demonstração de amor integral para se sentirem bem e, quando não recebem, martirizam os filhos com chantagens, críticas e cobranças.

As mães podem ser um céu de brigadeiro ou um inferno de sal. Elas podem adoçar a vida dos filhos ou transformar essas vidas numa batalha diária cheia de lágrimas, culpas e opressões.

Eu, por exemplo, não consigo ser um céu de brigadeiro nem para mim mesma, quiçá para uma pessoinha que vai me tirar o juízo madrugadas adentro e, honestamente, acho injusto colocar uma criança no mundo já com essa missão no lombo: fazer a mamãe crescer.

Dar a luz a um bebê é fácil, difícil é ser mãe da própria vida e iluminar as próprias escuridões."